2.11.09

O papel do designer hoje [Redação 2]

Escrito por Ana Mora às 11:52
Design, para o mundo cultural brasileiro, sempre indicou inovação, modernidade. Na verdade, traduzida do inglês é simplesmente 'desenho', mas o 'desenho brasileiro' agregava em si tradições impenetráveis e os artistas correspondentes não queriam se render à um novo mundo que surgia.

Essa é uma declaração que podemos denominar de atemporal, portanto não cabe aqui a segregação através de anos ou séculos, porque é sempre assim que funciona e sempre assim que funcionará. Infelizmente, em termos artísticos culturais, a sociedade é estática e resistível a novas tendências. Quando estas se impõem, através de formas diversas que causam a penetração na sociedade, são aceitas e transformadas de acordo com a estética vigente, havendo o rompimento do caráter simbólico e a adequação a realidade já existente.

Hoje em dia observamos que o mercado coagente dos designers atuais é puramente marketeiro. Trata-se de lucro, de vendas, de superação de metas e massificação popular. Portanto, um dos principais papéis dos designers é realizar a mescla do artístico e da expressão pessoal com o mundo capitalista, tornando-se quase que puramente um agente corporativista do mundo dos negócios. O designer tende a resgatar tendências de outrém, de famosos que inovam (ou copiam, ou reciclam, ou reformam) e são auto-patrocinados (ou tão acreditados que já são tidos como verdadeiros artistas), e de coisas já existentes, que acompanham a (des)evolução do seu trabalho artístico.

Afunilando o assunto para a área da moda, nos deparamos com essa mesma máquina coagente e asfixiante. Não é que possamos dizer que exista uma falta de criatividade ascendente na área, mas é amplamente vísivel que a mesma está se tornando característica de muitas marcas, especialmente no mercado de moda brasileiro, se pudermos comparar com a Europa, por exemplo. Aqui, há o mercado, a venda, não um espaço aberto e definitivo para a moda como arte ou a arte da moda, como provou o estilista e artista plástico Jum Nakao, já amplamente citado em artigos deste gênero.

Jum Nakao rompeu paradigmas criando uma coleção completa feita em papel vegetal para o desfile de 17/06/2004 da São Paulo Fashion Week, com detalhes e modismos que surgiram de sua própria capacidade pessoal, não seguindo tendências mundiais ou sequer buscando a venda dos produtos. Ele fez o que seu coração mandou, guiando mente e emoção numa busca por uma perfeição inexistente, rompendo aspectos estéticos vigentes e criando uma nova gama de informações a serem exploradas por seus discípulos. Logo mais seu desfile seria amplamente aplaudido e divulgado por conta da dramaticidade contida no final, onde as modelos rasgaram as peças, demonstrando raiva, ódio e, ao mesmo tempo, adoração por aquilo que faziam.

Esta imagem ficou por muito tempo pairando no mundo da moda brasileira, dando formas de gênio ao grande criador da atuação. Entretanto, seguindo seu caminho, Jum se retirou daquele mundo que queria dominá-lo e tê-lo como mestre artístico, dando asas às suas próprias criações, independentes de quais fossem.

Não tenho a intenção de julgar designers por, de certa forma, venderem-se ao mercado corporativo, que lucra através de suas artes e experiências pessoais passadas para um pedaço de papel, mas gostaria que, com esse artigo outras pessoas se inspirassem em estar realizando feitos para a humanidade, e não somente buscando algo para comer.

por ANA PAULA MORA PEREIRA - NC 8 - 05101873

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